Quando eu era adolescente vi um filme do Bernardo Bertolucci que se chama “O céu que nos protege” que se passava no Saara. Esse filme ficou aqui em mim para sempre.
Duas pessoas que atravessam o Saara e conhecem uma grande transformação.
Passam por situações que os expõem a si mesmos e os fazem perceber que seus maiores medos não representam nada diante do imenso. Ninguém sai o mesmo dali. Isso me instigou, me acendeu uma grande curiosidade, uma necessidade. Tornou-se um sonho estar um dia no Saara. Por décadas eu pensava sobre isso. Em fevereiro de 2020 fui para minha viagem ao Saara. Programei para ser um rito de passagem para esta nova fase da minha vida. Depois de caminhar por quarenta e nove anos eu precisava de alguma coisa que materializasse o fato de que a aridez não representava mais escassez para mim.
Cheguei no Saara e boa parte da viagem a camelo até o acampamento me deu de presente o pôr do sol. Meu coração estava suspenso no ar, sendo regado por aquele orvalho frio e vivo.
Quando a noite caiu me vi debaixo daquele céu que me assombrou com sua força. A noite no Saara tem a cor da noite mais noite. Ali tudo significa mais, a imaginação ou palavras não são suficientes. É ambíguo e um só.
Contemplar a noite no deserto, me fez enxergar a vastidão e o meu tamanho. Naquele momento eu vi e vivi meu rito se materializando. Era real que na aridez mais absoluta, não há absoluto e que se pode capturar a beleza e fazê-la entrar dentro da alma.
- Credo! O que tem num lugar assim?
Hoje eu poderia responder que lá tem tudo, tem liberdade, tem pessoas que sorriem se
guiando pelos sinais do deserto. O deserto me deu amigos.
Ele me fez ter certeza de que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”
O deserto expandiu minha alma.
@analaurarafreitas
Fernando Pessoa: citação entre aspas.
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