Você tem mesmo que ter um propósito?

Hoje eu estou escrevendo para quem anda encafifado com esse negócio de propósito. Muita gente fica angustiada porque sente que precisa arrumar um propósito para impactar o mundo de qualquer jeito para se ajeitar na carreira.

Ter um propósito se tornou mais uma obrigação na lista de todo profissional que busca um lugar ao sol. Parece que não ter propósito faz da pessoa um profissional sem motivação, sem rumo, sem alma, sem coração. Mas será que isso é verdade?

Será que o profissional que não sabe qual é o seu propósito está mesmo destinado a ter uma vida medíocre e sem sentido? Será que se vale a pena se sentir angustiado, ansioso e culpado se você não sabe qual é o seu? Será mesmo que o tal do propósito tem tanta relevância na carreira das pessoas e que todo mundo tem que ter um propósito para chamar de seu?

Será que todo mundo nasceu para ser um Martin Luther King, um Gandhi, um Viktor Frankl, um empreendedor mega blaster, um milionário encubador de start ups na vida? Até que ponto a gente precisa se azucrinar para colocar mais um item numa lista para fazer check a todo custo?

Hoje eu completo 52 anos e não tenho certeza sobre algum propósito na minha vida. Talvez seja porque eu não queria ter certezas. Vivi boa parte da minha vida levando tudo muito a ferro e fogo, querendo me
forjar na marra, sem descanso, bem implacável comigo mesma.

Durante muito tempo eu me rendi à lógica – ou seria loucura? – que diz que a gente tem que parecer lindo em tudo quanto é foto e saía correndo para fazer um monte de coisas, me cobrando para dar conta de tudo e se não saísse perfeito, eu me culpava e me entristecia horrores. Mas esse tempo passou. Ufa!

Quando a gente alcança um certo grau de maturidade, a gente descobre que não é obrigado a um monte de coisas, porque a gente passa a entender melhor a nossa própria natureza e percebe o que que nos faz mal e uma coisa que me faz mal é a rigidez.

Deixei de pegar os conceitos que vêm de fora para eu me adaptar a eles e passei a me movimentar na vida a partir do que importa para mim. Fiz o movimento de dentro para fora. Percebi que preciso deixar as coisas soltas para que elas sigam um fluxo natural. Isso me garante um certo grau de abertura, o que tem muito mais a ver com a pessoa que eu sempre quis ser. Portanto, a minha tendência agora é
deixar abertos a cabeça e o coração.

Se você me perguntar qual o meu propósito, hoje eu posso te responder que o mais importante para mim é estar aberta e não fechar questões.

No meu trabalho, provoco as pessoas para se olharem com mais abertura e menos rigidez, para que elas possam se mover no mundo profissional, tão jeito de normas, com mais leveza, reconhecendo suas identidades e ficando em paz com elas.

Abertura tem sido a minha palavra-chave e para mim ela é muito maior que a palavra propósito. Eu noto que sempre que aparece um termo da vez, ele fica pipocando de boca em boca até se esvaziar de seu significado original. Foi assim com empoderamento, sentido, performance e tantos outros. Não é difícil encontrar gente com preguiça desses termos e eu entendo perfeitamente quando isso acontece.

Propósito se tornou algo muito falado e pouco compreendido, cheio de mitos. As pessoas acreditam que é uma causa para poucos, categorizam trabalhos que tem potencial ou não para ter propósito, ficam à espera de um milagre para descobrir o seu, se culpam. Enfim, chegou-se num ponto em que não vejo
abertura quando se trata de propósito. Fecharam a questão para o termo e quando isso acontece eu perco boa parte do interesse pelo assunto, e embora eu saiba de sua importância e real significado, fica muito difícil restituir a palavra ao seu lugar original.

Entenda que não é preciso diminuir nada do que você faça ou já tenha feito para criar um propósito. Cada passo que você tenha dado vale muito, pois é parte da sua história. Procure se conectar com o que você faz e como faz agora. Acolha o que você tem feito com o respeito que você tem por si mesmo. Você tem, né?

Antes de buscar se adequar a qualquer coisa que esteja fora de você, olhe para dentro de si e se (re)encontre. A partir disso, siga o fluxo, se permita experimentar e se observar. Não se preocupe com jargões, pense mais em você, sobre o que te faz feliz. Não tenha vergonha de agir assim. Se a culpa aparecer, insista!

Se livre da obrigação de ter um propósito e se abra para sentir as emoções que lhe chegam no seu dia a dia, nas pequeninas coisas. Estar aberto é se manter curioso, acolhendo as possibilidades de mudanças
internas e exteriores, aceitando a impermanência da vida, se permitindo ser mutável.

Para que você entenda o que te move, você precisa estar disposto a compreender se suas ações estão condizentes o que é importante para você. Você precisa entender que nada é permanente e muito menos imediato, as coisas vão sendo construídas e se não estivermos atentos, a gente nem percebe.

Ana Laura Freitas

Minha primeira graduação foi em Administração com ênfase em Comércio Exterior. Iniciei minha carreira trabalhando com exportação e um ano depois, eu estava atuando em finanças internacionais, numa grande empresa do cenário nacional.

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