Etarismo e Carreira

Os preconceitos relacionados à idade estão por toda a parte. Relutei por um tempo em tratar desse assunto, porque fiquei entre abrir a discussão com um artigo de opinião, num tom mais pessoal ou apresentar resultados de pesquisas de maneira mais técnica. 

Acabei ficando com a primeira opção, pois se o assunto diz respeito diretamente a mim, por que não contar sobre minha vivência e meus pontos de vista?

Acordei quanto aos preconceitos em relação à idade quando completei 48. Nessa época comecei a pensar de forma mais consistente sobre o envelhecimento, sobre a minha saúde e principalmente, sobre como me recolocar no mercado de trabalho depois de minha nova graduação, que se deu no ano passado pouco antes de eu completar 51.

Vivi umas coisas que me acordaram para essa realidade. A primeira delas é que eu ouvi comentários claramente preconceituosos e alguns deles vieram de um médico, o que já dá para entender a dimensão do problema, pois, um profissional da área de saúde não deveria ser descuidado ao tratar de certos assuntos com seus pacientes. Quando se trabalha com a saúde, a única opção que temos em relação aos preconceitos é a sua eliminação.

Em outras ocasiões me vi preterida em seleções para projetos, várias vezes pessoas me perguntando para que eu estava querendo estudar e voltar a trabalhar quando as pessoas na minha idade querem sossegar e por aí vai. Mas ninguém me perguntou se eu queria sossegar!

Escolhi retomar quando esperam que desistamos e tem sido um tempo de muito trabalho. Mas não consigo pensar em não levar isso até o fim, porque tenho muita clareza sobre o quanto isso é importante para mim.

Aprendi a valorizar cada conquista minha desde que comecei a trabalhar há quase trinta anos, mas, também me conscientizei sobre o abismo que há entre minha condição e a de milhares de outros brasileiros com mais de 50 anos que precisam trabalhar para sobreviver. 

Escolhi trabalhar porque eu descobri que autonomia e independência são muito importantes para mim e para viver esses valores preciso do fruto do meu trabalho. Diferente de mim, há um grupo de pessoas que não pode escolher entre se aposentar e ficar em casa, viajar ou continuar trabalhando, já que precisam de renda complementar para a aposentadoria para sobreviver. 

Há pessoas com mais de sessenta, setenta anos que continuam a trabalhar compulsoriamente depois da aposentadoria por questões de sobrevivência.

Acredito que o LinkedIn seja a rede mais apropriada para se falar sobre esse assunto, pois é um ambiente em que há compromisso com a realidade e responsabilidade sobre o que se posta. Aqui, podemos tratar o assunto com a seriedade que ele merece, sem que ele seja eclipsado por jargões vazios ou cooptado para campanhas que visam a promoção individual. 

Nós, os “maduros,” podemos resistir à tentação de nos gabarmos de nossas conquistas pessoais e de não nos responsabilizarmos por olhar com sensibilidade ao nosso redor e vermos que há muito a ser feito para atingirmos uma situação que nos permita vislumbrar alguma melhora.

Não vejo sentido em dizer que minha idade não me define, pois, a minha história está contida em cada ano que eu vivi. Eu precisei desses 52 anos para me sentir pronta para buscar o que é importante para mim, sem me sentir intimidada por qualquer “ismo”, seja etarismo, machismo, sexismo ou qualquer outro tipo de julgamento ou preconceitos.

Portanto, ter 52 anos faz toda a diferença e me define por completo.

Além disso, se não sou capaz de reconhecer aos 52, que tenho muitos privilégios e posso usá-los junto com as minhas conquistas pessoais como ferramentas para propor discussões férteis, bem fundamentadas que possam conscientizar as pessoas sobre o assunto e esclarecer o máximo possível suas dúvidas e derrubar preconceitos, essa conversa toda me soará completamente vazia.

Além da precariedade na qual vive a maioria dos velhos no Brasil, devemos também trazer à discussão outras questões que têm estreita ligação com o preconceito de idade. 

O sexismo toma contornos mais definidos e severos depois dos 50, isso é evidente, mas, os homens também têm suas questões em relação a isso e são muitas. 

Certamente há muito para mudar em nossos conceitos antes de entrarmos num futuro não muito distante em que a força de trabalho se encontrará em grande parte na população com mais de 50.

O mundo está mudando velozmente e a forma de lidar com o envelhecimento também. 

Devemos examinar cautelosamente como tratamos esse tema. Afinal, envelhecemos todos, todos os dias.

Trataremos desse assunto com mais frequência e com mais profundidade, essa é apenas uma introdução.

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etarismo na carreira

Ana Laura Freitas

Minha primeira graduação foi em Administração com ênfase em Comércio Exterior. Iniciei minha carreira trabalhando com exportação e um ano depois, eu estava atuando em finanças internacionais, numa grande empresa do cenário nacional.

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