Um domingo que não posso esquecer

O dia de ontem, um domingo preguiçoso de chuva, corria num ritmo gostoso, com goles de chá, biscoito de fubá e queijo.

Cobertas e cama depois do almoço.

Eu tinha começado a ver um filme.

Mas uma amiga me manda uma mensagem do WhatsApp:

– Estão invadindo o Congresso e quebrando tudo.

Eu fui procurar as imagens para eu ver e crer.

Sou do tipo que fica lutando com uma esperança boba de que pode não ser bem assim, até constatar com os próprios olhos.

Vi e até agora ainda luto com meus sentimentos, que não consegui traduzir em nenhum momento.

Tenho a esperança de que você, se concorda que a democracia precisa ser respeitada a todo custo, entenderá a minha incapacidade para descrever em palavras algo tão aviltante.

Esta é a única palavra que encontrei. Até fui ao dicionário para ter certeza de que ela serviria e está lá:

Aviltante – que avilta, que desonra, que humilha, “difamação a”.

Sim. Desonra, humilhação, difamação. Como brasileira, o sentido de humilhação, desonra e difamação, tem se revelado de inúmeras formas.

Mas até hoje, algo nunca tinha doído tanto na carne como esse domingo chuvoso.

Triste não conseguir, mesmo usando de todas as premissas válidas possíveis, argumentar pelo bom senso.

Além de me sentir aviltada, me sinto exausta.

2022 foi exaustivo. Da mesma forma foram 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016…

Não se engane, 2023 não vai fugir à regra. Teremos muito trabalho pela frente e não vão facilitar para a gente.

Diante de tanta dificuldade para estabelecer a mínima comunicação plausível, a meu ver, resta apenas o posicionamento firme e claro.

Depois disso, posso seguir em paz atrás dos meus sonhos, de recuperar de alguma forma o tempo perdido em tanta coisa que nunca me disse respeito, na construção de histórias que nunca foram minhas, para sustentar “verdades” que jamais fizeram parte de quem sou.

Nunca é tarde.

O importante é se honrar.

Quando sabemos quem somos, o que nos pertence e o mais importante, os lugares aos quais sempre pertencemos, que nos deixam livres e sadias, sempre saberemos para onde vamos.

Ainda tenho muita coisa para fazer.

A minha reconstrução está muito bem alicerçada por mim.

Os últimos 13 anos da minha vida têm sido para reconstruir.

Alguns lugares, os mais meus e solitários, eram só escombros. Isso acontece quando você deixa os outros falarem por você.

Mas quando você tem a escritura da sua própria vida, a história é outra.

De 2020 para cá, vasculhei o fundo da minha alma para recuperar muita coisa que estava submersa.

Trabalho árduo! Para recuperar o tempo e as oportunidades perdidas, estudo. Estudo muito e isso me dá um prazer enorme!

Nunca me senti tão dona da minha história. Muito estudo, trabalho, experiência, dores, conquistas, perdas, leitura…

Meu olhar e minha sensibilidade estão afiados.

Autoconfiança é saber que você tem um papel para cumprir, porque você escolheu, quer e pode dar seu melhor por isso.

O dia de ontem foi um domingo triste, está presente aqui comigo e vai continuar.

Não acho nada prudente esquecer.

Mas tenho o hoje e o futuro, que não vou perder e nem deixar que me tirem.

Lutar por eles é lutar por um mundo bem melhor.

Pode ter certeza.

Ana Laura Freitas

Minha primeira graduação foi em Administração com ênfase em Comércio Exterior. Iniciei minha carreira trabalhando com exportação e um ano depois, eu estava atuando em finanças internacionais, numa grande empresa do cenário nacional.

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