Como a incivilidade afeta os ambientes que frequentamos e nossas carreiras

Por que falar de incivilidade?

 

Há alguns dias eu assisti a um TED da Christine Porath, professora na faculdade de Administração da Universidade de Georgetown nos EUA e consultora para o desenvolvimento de ambientes de trabalho saudáveis.

Os seus clientes incluem Google, Nações Unidas, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional entre outros. Ela escreve para a Harvard Business Review, to New York Times, o Wall Street JournalMcKinsey Quarterly and the Washington Post.

Christine falou sobre os efeitos da incivilidade nas pessoas.

Portanto, vou usar os resultados de suas pesquisas como gancho para tratar de um assunto que há muito tempo me incomoda e tem muito a ver com as situações que temos enfrentado em nossa sociedade há algum tempo.

Se você me perguntar se isso tem a ver com política, te respondo sem pestanejar que sim, também.

São situações relacionadas com a política, que tive a infelicidade de testemunhar, que me motivaram a escrever este artigo.

Mas também tem a ver com o nosso desempenho no trabalho, nossas relações e a imagem que queremos que os outros tenham da gente.

Chamo a atenção para o fato de que o LinkedIn foi durante muito tempo um lugar onde as pessoas se preocupavam muito em manter uma postura profissional e se posicionar com a maior gentileza possível.

Entendo que as coisas mudaram e sou totalmente a favor de manifestarmos nossas ideias e nos posicionarmos.

No entanto, tenho visto manifestações totalmente fora do aceitável, desrespeitosas e até violentas por aqui.

Podemos nos manifestar civilizadamente.

Chamo sua atenção para o fato de que o LinkedIn é uma vitrine. Há empresas e potenciais clientes que nos veem o tempo todo.

Portanto, o nosso comportamento atrai ou repele.

A gente é que determina como as pessoas se sentirão a nosso respeito.

Portanto, considero que é muito importante tratar desse assunto e apresentar resultados de pesquisa como argumentos.

 

O que é incivilidade

 

Incivilidade é desrespeito, rudeza ou grosseria.

Isso inclui vários comportamentos, desde zombar e diminuir as pessoas até provocá-las de um modo fazendo piadas ofensivas ou mandando mensagens em reuniões. 

O que é rude para uma pessoa pode ser completamente normal para outra. 

Como mandar mensagens quando alguém está falando com você. 

Há pessoas que acham isso rude, outras podem achar completamente civilizado. 

Então, depende da maneira como cada um lida com a questão. 

É importante que sejamos capazes de nos colocarmos no lugar do outro e mesmo que a gente não se importe, que tenhamos sensibilidade para respeitar os seus limites

 

Quem você quer ser? 

 

Esta é uma pergunta muito simples e quer você saiba ou não, você a responde todos os dias com suas atitudes. 

Essa questão define seu sucesso profissional mais do que qualquer outra, porque o modo como você se apresenta e trata as pessoas define quem você é. 

Quando você age com civilidade e respeita as pessoas, elas se sentem valorizadas.

Do contrário você pode colocá-las para baixo e fazer com que elas se sintam pequenas, insultadas, desconsideradas ou excluídas. 

A sua escolha te define.

Quem você quer ser?

O que a incivilidade provoca nas pessoas

 

No trabalho, as pessoas adoecem porque tem um nível de estresse muito alto.

Sob o comando de um chefe grosseiro e sem empatia, as pessoas se tornam desmotivadas, tristes, com baixa estima e podem desenvolver depressão, síndrome do pânico e burnout.

Você conhece alguém que enfartou por causa de um ambiente de trabalho tóxico?

Eu conheço.

E posso dizer que é muito difícil a recuperação física e emocional dessas pessoas.

É preciso salientar que pequenas ações de incivilidade podem levar a problemas   como agressão e violência. 

Portanto seus efeitos no ambiente de trabalho desgastam as relações interpessoais e obviamente afeta o desempenho e o resultado. 

Em suas pesquisas, Christine descobriu que a incivilidade deixa as pessoas desmotivadas, causando a redução de seus esforços no trabalho, pois, elas perdem muito tempo remoendo como foram maltratadas e algumas se demitem.

Ao comparar as pessoas que vivenciaram a incivilidade com as que não vivenciaram, ela e sua equipe descobriram que quem vivencia a incivilidade têm um desempenho muito pior.

Além disso, as pesquisas concluíram que a produtividade das pessoas que não sofrem diretamente com a incivilidade, mas que a testemunham, também diminui de forma significante.

Assim, pode-se dizer que a incivilidade é como um vírus que nos contagia apenas por estarmos por perto. 

Claramente, devemos ter uma visão ampliada para tratar o assunto, que não se restringe ao local de trabalho. 

Podemos pegar o vírus da incivilidade em qualquer lugar que frequentamos: em casa, na TV, nas redes sociais, nas escolas e nas nossas comunidades. 

A incivilidade afeta nossas emoções, destrói nossa motivação e compromete nosso desempenho.

 Portanto, se estamos falando de um tipo de contaminação, a maneira como tratamos as pessoas também é afetada. 

Ela afeta até nossa atenção, podendo diminuir nosso foco. 

Isso acontece não apenas quando vivenciamos ou testemunhamos a grosseria. Mas se somente virmos ou lermos palavras rudes. 

Christine testou isso ao dar às pessoas que participaram de suas pesquisas combinações de palavras para montar uma frase. 

Metade dos participantes recebeu 15 palavras usadas relacionadas com grosseria: “mal-educado”, “interromper”, “detestável”, “incomodar”. 

A outra metade recebeu uma lista de palavras sem nenhum desses gatilhos. 

A descoberta foi surpreendente:  as pessoas que receberam as palavras rudes ficavam cinco vezes mais propensas a ignorar informações que estavam na frente delas, na tela do computador. 

Ao continuar a pesquisa, descobriram que os que leram as palavras rudes levaram mais tempo para tomar decisões, para registrá-las e cometeram muito mais erros. 

Além de Christine, pesquisadores em Israel demostraram que equipes médicas expostas à incivilidade se saem pior não apenas em todos os diagnósticos, mas em todos os procedimentos. 

Isso acontece porque as equipes expostas à incivilidade não compartilhavam as informações tão prontamente e pararam de buscar ajuda dos colegas de trabalho. 

Isso não acontece só na medicina, mas em todas as áreas.

 

O custo da incivilidade

 

Christine cita exemplos de empresas que buscaram abolir a incivilidade de seus ambientes.

Essas empresas descobriram que os gastos na ordem de dezenas de milhões de dólares com o afastamento de colaboradores e turnover, se davam por causa de problemas mentais deflagrados pelo abuso de chefes e colegas.

Portanto, a incivilidade tem um custo alto.

Então, por que ela ainda é tão comum? 

A razão número um é o estresse. 

Quando as pessoas se sentem sobrecarregadas elas se sentem descrentes e pensam que ser gentil não vale a pena.

O motivo dessa reação se dá porque ao conviverem com “líderes” grosseiros, elas começam a acreditar que somente os incivilizados sobem em suas carreiras.

Convenhamos, é fácil pensar assim, especialmente quando há exemplos proeminentes que se destacam.

No entanto, no longo prazo, os efeitos da incivilidade é a causa número um do fracasso das lideranças com perfil mais duro e intimidador. 

Infelizmente, sempre haverá exceções de lideranças bem-sucedidas a despeito da incivilidade. 

Mas, cedo ou tarde, a maioria dos grosseirões sabota seu próprio sucesso. 

Por exemplo, o “líder” incivilizado, colherá o fruto de seu comportamento quando precisar do apoio das pessoas.

Você consegue pensar em um exemplo?

 

Afinal, compensa ser gentil? 

 

Ser gentil não significa apenas que você é bem-educado e não é um imbecil.

Quando somos realmente gentis fazemos naturalmente pequenas coisas, como sorrir, cumprimentar as pessoas no corredor e prestar atenção quando alguém está falando. Isso faz com que as pessoas se sintam respeitadas e recebemos o respeito delas de volta.

É possível ter opiniões fortes, discordar, entrar em conflitos ou dar feedback negativo de uma forma gentil, com respeito, civilizadamente.

As pessoas gentis têm o dobro de chances de serem vistas como líderes de verdade e se saem significativamente melhor nos desafios que enfrentam.

Por que a gentileza compensa? Porque as pessoas a veem como uma poderosa combinação de características-chave: calor humano, competência, afabilidade e inteligência.

Portanto, ser gentil não faz bem só para as outras pessoas. Faz bem para você.

Se você é gentil, é mais provável que venha a ser visto como um líder que se sairá melhor e será percebido como caloroso, competente, amigável e inteligente.

As pessoas gentis conquistam a confiança, o respeito, a admiração e a gratidão dos outros.

 

O que as pessoas esperam das lideranças?

 

O que as pessoas mais querem dos seus líderes? 

As pesquisas de Christine recolheram dados de 20 mil empregados no mundo todo, e descobriram que a resposta é bem simples: RES-PEI-TO. 

As pessoas que se sentem respeitadas são mais saudáveis, mais focadas, mais propensas a ficarem na empresa e de longe, muito mais comprometidas.

Então, por onde começar? Como podemos incentivar as pessoas a se sentirem respeitadas? 

Não é difícil. Gentilezas como agradecimento, compartilhar o mérito, escutar atentamente, fazer perguntas humildemente, notar os outros, respeitar e acolher as divergências e sorrir têm forte impacto positivo nas pessoas e nos ambientes onde interagimos.

Gentileza e respeito impulsionam o desempenho das empresas e eleva as pessoas. 

As pessoas sempre se doam mais e elas trabalham melhor se são tratadas com respeito.

A incivilidade desgasta as pessoas e compromete o desempenho. 

Ela rouba o potencial das pessoas, mesmo que estejam tentando contorná-la. 

Os ambientes civilizados têm impacto direto na produtividade, criatividade, colaboração, comprometimento e satisfação das pessoas.

 

Qual é a sua escolha?

 

Cada um de nós pode se comprometer a elevar as pessoas ao nosso redor, no trabalho, em casa, nas redes sociais, nas escolas e nas nossas comunidades. 

Em cada interação sua, se pergunte: “Quem eu quero ser?”

Vamos acabar com o vírus da incivilidade e começar a espalhar gentileza. 

Afinal, compensa. E muito!

Até mais,

Ana Laura Freitas

Ana Laura Freitas

Minha primeira graduação foi em Administração com ênfase em Comércio Exterior. Iniciei minha carreira trabalhando com exportação e um ano depois, eu estava atuando em finanças internacionais, numa grande empresa do cenário nacional.

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