Como a negligência emocional infantil faz adultos excessivamente responsáveis e negligentes quanto às suas próprias necessidades

Ser responsável é bom, mas se cobrar até o ponto de se tornar excessivamente responsável pode custar muito caro.

Ter a sensação de ser responsável pelo que os outros sentem, pode deixar as pessoas exaustas e vulneráveis à exploração e manipulação.

A responsabilidade excessiva é comum nas pessoas que sofreram negligência emocional quando crianças.

A criança que sofreu negligência emocional volta sua atenção para os outros, em vez de colocá-la em si próprio.

Isso faz com que ela se torna um adulto dependente de fatores externos para se sentir valorizado, quando o saudável é buscar internamente as motivações para construir a vida que corresponde às suas reais necessidades.

Esse adulto tem muita dificuldade de se posicionar para fazer sua voz ser ouvida. É inseguro e sente medo de decepcionar as pessoas.

Quando criança aprendeu desde pequeno que para merecer elogios, carinho, sentir-se querido e valorizado teria que corresponder às expectativas de seus cuidadores.

Assim passa a vida adulta se negando o direito de ser quem é, de discordar, e trilhar seu próprio caminho.

Essas pessoas são motivadas a assumir responsabilidades em excesso por se sentirem constantemente culpadas, por terem medo de decepcionar os outros e por medo de julgamento.

Isso faz com que suas necessidades mais cruciais sejam totalmente negligenciadas.

Essa autonegligência acaba trazendo sentimentos como letargia, vergonha, tristeza, insatisfação, incapacidade, além da paralisação diante das situações que as desagradam.

Por isso elas raramente se arriscam a buscar o que desejam de verdade.

Obviamente que a manutenção desses ciclos trará danos à saúde mental.

É importante pontuar que a responsabilidade é sempre bem-vinda, especialmente quando diz respeito às nossas carreiras, já que atesta nossa capacidade de comprometimento e confiabilidade.

No entanto o excesso de responsabilidade precisa ser visto com cuidado.

No mundo corporativo é comum vermos pessoas que resolvem tudo e mais alguma coisa.

Mas isso só chama realmente a atenção, quando precisam de licença médica por causa de depressão, burnout, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada etc.

Portanto é importante salientar, que as pessoas negligenciadas emocionalmente na infância sentem que precisam fazer muito e com perfeição para serem aceitas e amadas.

Elas vivem com uma angústia permanente quanto a tudo que fazem, pois, sempre consideram que nunca é bom o suficiente. Aqui podemos localizar mais um traço delas: o perfeccionismo.

Além disso estabelecer limites e dizer não é algo que lhes causa muita culpa.

Por acaso você já acabou fazendo o que não queria ou deixou de fazer o que queria incontáveis vezes por isso? 

Talvez você se orgulhe de ser a pessoa com quem todo mundo pode contar ou a que está sempre disposta a doar. Mas tanta doação pode fazer com que você ignore seus sentimentos, suas necessidades e seus desejos.

Isso é pesado e traz consequências para sua saúde mental.

Para entender por que isso acontece, é preciso entender o que é negligência emocional na infância.

O que é negligência emocional na infância

Negligência emocional não é nada que seus pais fizeram com você, mas o que eles não conseguiram fazer: acolher suas emoções e sentimentos.

As emoções estão em você desde que nasceu.

Mas se elas não são reconhecidas na infância, você pode perder uma vida inteira de conexão e compreensão.

As emoções têm o papel de te guiar, te conectar, te motivar e até te proteger.

Se você não foi ensinado a lidar com elas na infância, pode se tornar um adulto confuso e desconectado de si mesmo.  

Portanto se há dificuldade de se entender e de se conectar com suas próprias emoções, há dificuldade para se relacionar com os outros.

A negligência emocional passa a mensagem de que seus sentimentos não importam.

Se você cresceu nessas condições, acreditará que tem menos valor que os outros, ou seja, terá problemas com sua autoestima.

Você naturalmente aprendeu a sintonizar os sentimentos e as necessidades daqueles ao seu redor, em vez dos seus e é aí que a responsabilidade excessiva se desenvolve.

Responsabilidade e Negligência Emocional na Infância

Adultos emocionalmente negligenciados têm algumas características em comum. Há quatro que se destacam por terem profunda ligação com o senso de responsabilidade.

1.    Você é altamente competente.

É claro que sim! Afinal é mais fácil fazer do que sentir.

Provavelmente você sempre se destacou em alguma coisa desde pequeno.

Você foi a criança obediente, o adolescente centrado, admirado por isso por onde passou.

Na vida adulta você sabe resolver problemas e cuidar das coisas.

Mas atenção, pois você pode ser facilmente manipulado, sendo vulnerável à exploração pelos outros.

Você sente que precisa ser excessivamente responsável, porque acredita que é sua obrigação ser eficiente e produtivo, não importa como isso te afete.

2.    Seu foco está no mundo externo.

Você tenta evitar seu mundo interior, concentrando sua atenção no mundo externo e não se conecta com suas emoções e sentimentos.

Se sente desconfortável quando o foco é direcionado para você, pois seu mundo emocional é um território desconhecido.

Portanto ser excessivamente responsável te mantêm concentrado nos outros e nas tarefas que têm de fazer.

Afinal isso é uma maneira de evitar que lide consigo, e claro, você acredita que não é importante.

3.    Você negligencia seus próprios sentimentos e necessidades.

Você foi ensinado a ignorar seus sentimentos e continua lidando com eles como se não existissem.

Se você não confia nas emoções para guiá-lo, pode ter dificuldade para saber do que gosta ou não, desconhece suas paixões e interesses e, em última análise, pode se sentir perdido para se compreender.

Ser excessivamente responsável te faz atender as expectativas e necessidades dos outros, já que você não sabe identificar o que quer ou sente.  

Quando sabe, se sente preso em situações que te impedem de realizar seus desejos.

  4. Você sente que não é bom o suficiente.

Quando os pais reconhecem e validam os sentimentos dos filhos, eles se sentem compreendidos e constroem um senso de valor equilibrado.

Mas se o oposto acontece, se sentem incompreendidos e sempre acham que não são bons o suficiente.

Quando você assume esse papel, fica claro que os sentimentos e necessidades dos outros importam e os seus não.

Afinal você acredita que é sua função ajudar os outros a se sentirem confortáveis, felizes, bem-sucedidos, saudáveis e satisfeitos. Há algo de muito injusto aqui.

Quem cuida do seu conforto, felicidade, sucesso, saúde e satisfação? Você está deixando de ser responsável pelo mais importante: você.

Atenção! Provavelmente, você ouviu várias vezes que é egoísta ao demonstrar seus próprios sentimentos, preferências e desejos. Mas isso é realmente verdade? Pense comigo. Ignorar os sentimentos de alguém para que ele satisfaça suas próprias expectativas, é o quê?

5 atitudes que te ajudarão a se sentir menos responsável

1.    Reconecte-se com suas emoções e sentimentos

Não os rotule como bons ou maus. Apenas permita que eles se manifestem e aprenda a acolher TODOS eles.

Eles fazem parte de você e são eles que te tornam singular.

Suas emoções e sentimentos têm muito a te revelar sobre quem você é e vão te mostrar quais são as necessidades que você precisa suprir.

Isso vai ser um desafio e para lidar com ele, você vai precisar desenvolver sua autocompaixão num trabalho diário.

Ao se conectar com suas emoções e sentimentos, você também vai descobrir quais são seus valores e como eles são importantes para viver uma vida com sentido e satisfação.

2.    Priorize a si mesmo.

Você foi ensinado a ignorar sues sentimentos. Por isso acredita que é pior que os outros.

Preste muita atenção: isso não é verdade!

Você pode aprender a se enxergar sob outra perspectiva e substituir as narrativas que não te servem mais por outras reais, que colaborem com o seu desenvolvimento.

Sua maior responsabilidade é consigo mesmo, você é responsável por priorizar suas necessidades acima de tudo.

Isso é a base de uma boa saúde mental.

3.    Defina limites.

Saia desse papel e aprenda uma habilidade valiosíssima: a assertividade.

A assertividade é a capacidade de comunicar seus sentimentos e necessidades com clareza.

Quando você é assertivo deixa claro que os sentimentos dos outros importam, mas, os seus também.

É saudável e necessário estabelecer limites com os outros.

4.    É simplesmente impossível ser responsável por tudo e por todos.

Mas é perfeitamente possível e saudável ser responsável por si mesmo.

Reserve tempo para avaliar quais responsabilidades você está carregando que não são suas.

Tenho certeza que você descobrirá que a maioria não pertence a você.

5.    Sua capacidade de identificar, responder e atender às necessidades dos outros ao seu redor é uma habilidade extremamente valiosa.

Mas essa habilidade será desperdiçada se você se negligenciar.

É preciso que você se torne consciente sobre suas próprias necessidades e construa uma relação equilibrada entre você e os outros.

Imagine como sua vida pode ser muito mais gratificante se você se conhecer a ponto de tomar as decisões que precisa com segurança!

Meu recado para você

Realmente não é nada fácil lidar com as feridas da negligência.

Por isso a melhor maneira de tratá-las é através de terapia com um profissional bem capacitado.

Durante o processo, aceite sua condição, nem se sinta envergonhado, pois posso garantir que é mais comum que você pensa.

Lembre-se de que não é sua culpa e não tem nada a ver com colocar a culpa em seus cuidadores.

É um processo de fortalecimento e resgate.

Portanto, acolha-se com paciência e autocompaixão.

Isso pode mudar.

Você tem o direito de se apropriar de você e da sua vida.

Com carinho,

Ana Laura Freitas.

Referência

MUSELLO, Christine. WEBB, Jonice. Running on Empty: Overcome Your Childhood Emotional Neglect. Nova Iorque. Morgan James Publishing. (1 outubro 2012).

 

Ana Laura Freitas

Minha primeira graduação foi em Administração com ênfase em Comércio Exterior. Iniciei minha carreira trabalhando com exportação e um ano depois, eu estava atuando em finanças internacionais, numa grande empresa do cenário nacional.

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