Escrever é realmente bom para mim, mais que isso, escrever é muito importante para mim, porque além de me dar grande prazer, me ajuda a me organizar, coloca em ordem o que sinto, consigo ver as situações que vivo em perspectiva(s).
Gosto tanto de escrever, que escrevi este texto à mão, da forma mais analógica possível. Coloquei-me na mesa da minha sala, de costas para o sol da manhã, num ritual que recarrega as minhas energias e me liga a mim mesma e ao mundo. Este é um ato privado de resistência, porque é a afirmação de algo que é meu jeito visceral de estar no mundo desde a infância. A escrita despontou como uma forma de expressão forte para mim quando eu ainda era menininha, com uma imaginação fértil capaz de criar mundos e situações fantásticas que os colegas não entendiam. Por causa disso, por um bom tempo, aquela menina de 07, 08 anos foi chamada de mentirosa, mas era apenas a fantasia transbordando como leite levantando fervura.
Falo sempre que fui salva pela literatura, e ela, de um jeito e outro, continua fazendo esse papel.
Dando um salto no tempo, estou em julho de 2025, feliz por ter terminado a escrita do meu TCC para a especialização em neurociências. Ainda falta a defesa, mas sinto-me realmente feliz, como raras vezes senti em relação a algo que criei. Pela primeira vez, posso dizer que entreguei-me para a construção de algo meu, escolhido e planejado por mim, com um sentido claro.
Escrever o TCC, ou melhor, a monografia, me devolveu um modo de escrita autoral, cuidadosa, onde cada termo, cada palavra, deve ser atentamente escolhida e milimetricamente encaixada no texto para não comprometer a mensagem que ele tem que entregar. O cuidado que um texto científico exige me mostrou que nem o rigor acadêmico pode limitar uma pessoa que realmente gosta de escrever como os robôs da IA. E agora eu cheguei onde queria. Mas antes de prosseguir, quero dizer que o que escrevo aqui é diz respeito à MIM, é sobre o que EU sinto, e em momento algum tenho a intenção de dizer o que é certo ou errado para ninguém.
Estou me permitindo escrever com uma lente egóica, no sentido de partir de minhas percepções exclusivas, porque entendo que essa é a melhor maneira de mostrar como viver por valores funciona na prática, com todo o prazer e desconforto que isso traz.
Para você entender bem o que quero dizer, como boa mineira, preciso contar um “causo”, ou mais de um. Nos últimos 4 anos tenho trabalhado arduamente para me desenvolver na minha nova carreira. Passei por uma série de fases e em uma delas, mais longa que deveria dada a minha teimosia, fiz a exploração das redes sociais como ferramenta de impulsionamento. Quanto a isso devo confessar, que grande parte dos experimentos me causaram imensa frustração e desânimo.
Eu pude sim conhecer pessoas incríveis que quero levar comigo como amigas, mas no que diz respeito à produção de conteúdo sofri muito, porque encaixar meu conhecimento e meu jeito de pensar numa moldura muito estreita para perseguir resultados que podem ou não ser gerados por uma coisa chamada “algoZritmo”, faz com que eu me sinta como um hamster na rodinha e isso, não tenha dúvida, me causa uma tremenda angústia. Eu nunca consegui deixar de questionar o quanto isso corrói minha integridade e limita minha autenticidade.
E se tem uma coisa que tenho aprendido é que há angústias inevitáveis, pois são parte inerente da vida, e outras totalmente dispensáveis.
À medida que o tempo passava, fui percebendo que a psicoterapia praticada por psicólogos clínicos não se vende facilmente nas redes. Como na escrita acadêmica, que exige um trabalho artesanal para encaixar palavras e termos, a construção de tudo que envolve a psicologia clínica é essencialmente analógico, no sentido mais humano e relacional que isso possa significar. A começar pelas relações de networking que os psicólogos clínicos constroem. Os vínculos com outros profissionais que servem como rede de apoio, os supervisores –benditos sejam, colegas em busca de acolhimento prontos para acolher, trocas de conhecimento técnico com toque essencialmente humano e as preciosas indicações.
Isso é a base que sustenta um trabalho de excelência na clínica, o que sinceramente, não tive a sorte de encontrar nas redes. Essas coisas começaram a ficar claras quando comecei a (re) viver meu valor de estudo/conhecimento com mais profundidade ao ingressar na UFMG em 2023. Sempre sonhei estudar numa grande universidade pública, mas por contingências da vida e porque quando fiz meu primeiro vestibular, julgava não ser capaz, acabei não tentando.
Vivenciar a produção da ciência “comme il faut” me despertou para coisas que são realmente inegociáveis para mim e as redes foram diminuindo a ponto de eu decidir, no momento, que minha presença nelas será pontual e mais assertiva, e sem preocupação com “estratégias”.
Não tenho mais compromisso de “produzir” conteúdo. Essa decisão se deve ao fato de que estou há dois meses sem quebrar a cabeça com linha editorial, sem pensar em alcance de post, em entrega e tralálálá, com postagem “estratégica” alguma e estou muito mais leve e feliz. E uma psicóloga clínica leve e feliz, acreditem, vale ouro!
Minha ideia é escrever textos mais parecidos com este, numa frequência que resguarde minha sanidade mental e a profundidade do que quero comunicar. Enquanto meu único “serviço” a ser vendido for a psicologia clínica, não vejo sentido que seja de outra forma, porque é assim que me sinto confortável.
Portanto, se você se interessa pela minha newsletter fique, que por ora, ela sairá uma vez por mês, mas garanto que será mais provocativa e escrita totalmente à mão, antes de passar para cá. Analógica de propósito, como tenho vivido intencionalmente nos últimos meses. Tenho ido a happy hours, festa junina com Karaokê, teatro, concertos, lido simplesmente por prazer, sem relação utilitária com a leitura. Sem relação utilitária com a vida.
No mais, prometo que não vou escrever assim:
Um texto provocativo.
Um texto manuscrito.
Um texto emocional.
Um texto que nasce da angústia silenciosa, como ferramenta poderosa para lidar com o adoecimento invisível.
Já testei, confesso. Mea culpa. Mea maxima culpa. E que Deus me perdoe e defenda!
Em tempo: o mais irônico dessa história, é que se você quiser que seus textos alcancem mais pessoas, você tem que correr na rodinha do hamster. Como isso está fora de cogitação, se você gostar comente. Vai alcançar quem tiver de alcançar. Wu Wei– você sabe o que é? Isso é assunto para outra newsletter.
Até breve! Obrigada por me ler,
Ana Laura Freitas – Psicóloga Clínica